Año 3, Número 6, julio-diciembre 2022
Escada de emoções
Por Andrea Daniela Sánchez Dominguez
Foto: Leonardo Herrera González |
Segunda-feira, é a última aula do dia. Conversamos sobre desaparecidos, falamos da Mariela. Meus colegas olham para o chão e eu posso perceber em seus olhares que lutam por ocultar sua consternação, mas não podem, o silêncio na sala é quase um grito desolador.
Sinto Angústia.
Termina a aula, o sol ainda não se pôs. Ando com passos pesados em direção a minha casa. Desejo ouvir uma coisa diferente para diluir esses pensamentos que atrapalham a minha mente. Chego em casa.
Sinto Inquietação.
Penso de novo em Mariela. Onde você está? —me pergunto. Então escuto esse nome na voz de minha irmã. Ela me explica a confusão nas redes por causa da notícia, só se sabe que ela foi assassinada.
Sinto Indignação.
Deslizo o meu índice pela tela do celular até que acho a notícia, meu rosto adquire uma aparência soturna; reconheço o sentimento, o experimento cada vez que leio os nomes das mulheres que nos arrebatam. Não quero ler mais, prefiro dormir mesmo sabendo que o medo roubara o meu sonho.
Passo meu dedo indicador pela tela do celular até encontrar a notícia, meu rosto fica sombrio; reconheço a sensação
Sinto Pânico
Terça-feira, tenho dificuldade para me levantar. Tomo a café da manhã sem vontade, pego a mochila e vou embora. Esta vez não me acompanha a música de ontem, agora é Nick Cave. A frese traspassa meus pensamentos “people ain’t not good”, a gente não é boa.
Sinto Repulsão.
Chego à escola, minha cara deve olhar-se terrível porque alguns braços me abraçam... são elas. Todas parecemos estar cansadas apesar de que algumas mostram cólera.
Sinto Raiva.
Ninguém quer ir para a aula mas vamos. Passam duas horas e não há nenhum comentário sobre seu assassinato, é o fim da aula.
Sinto Decepção.
De novo deslizo meus dedos pelo celular procurando mais informação, só acho mais nomes. Nas escadas todos falam sobre a assembleia, no entanto, escuto risos e comentários que evidenciam sua falta de empatia.
Sinto Irritação.
Ando, alugo uma bicicleta e enquanto pedalo me pergunto se aquelas meninas ausentes gostavam de andar de bicicleta. Passo pelo espelho d’agua e paro, há mulheres que lhe fizeram uma homenagem, são irmãs chorando, ali conheço o seu rosto. Volto ao meu caminho.
Sinto desconexão.
Chego à faculdade, devolvo a bicicleta e ando pelo corredor primeiro, segundo, desço as escadas e entro no “Rosário Castellanos”. É como as assembleias de sempre, mas com um objetivo novo, queremos greve, que parem de nos matar e por que não, vingança.
Sinto Danação.
Lembro que tinha que encontrar ele hoje. Vou para casa dele, chego, abre a porta e seu sorriso desaparece quando ele vê o meu rosto. Digo-lhe tudo o que aconteceu, escuta, me abraça, acaricia minha cara, beija minha testa e os lábios, vamos para a cama. Ele termina, eu não.
Sinto Atrito com ele.
Vamos no seu carro para a festa. Curto o estar viva, danço, bebo, canto. Agora vamos de volta. Conto-lhe que devo escrever uma crônica e ele me aconselha escrever sobre como me sinto com o que aconteceu na segunda-feira.
Sinto Confusão.
Quarta-feira, é de manhã. Estou em casa, não há ninguém. Tomo banho, então grito e choro. Lembro de tudo o que senti nestes dias. Lembro que Dian me diz que a ira dá dignidade quando nos obrigam a abaixar a testa cabeça. Então olho para cima, encontro o teu olhar... Agora caminhamos juntas, eu seguro a tua mão ausente e eu me desatinei...
Sinto muita ira.
Na quarta-feira, é de manhã. Eu estou em casa, não tem ninguém lá. Tomo um banho, depois grito e choro. Eu me lembro de tudo o que senti nestes dias. Lembro-me de Dian me dizer que a raiva dá dignidade quando eles nos fazem curvar a cabeça. Então eu olho para cima e encontro seu olhar. Agora caminhamos juntas, eu seguro tua mão ausente e me desfaço.